
Doença extremamente dinâmica, se há uma lição que a infecção pelo coronavírus SARS-CoV-2 repete até entrar em nossas cabeças é a da impermanência das coisas. Até outro dia, ninguém recomendava uma tomografia computadorizada a uma pessoa que estivesse, por exemplo, sentido uma quebradeira no corpo, com febre, dor de garganta e diminuição do fôlego. O exame estava longe de ser indicado para quem tinha sintomas leves ou até mesmo moderados que apontassem na direção de um possível diagnóstico de covid-19. Em geral, seguiam para os tomógrafos apenas aqueles pacientes com uma falta de ar importante, que os médicos consideravam mais graves. Mas isso mudou.
A mudança nas diretrizes aconteceu um pouco em função de que nem sempre há disponibilidade de testes para confirmar a presença do vírus. Sem contar que a fila de espera para obter o resultado desse exame está, de fato, muito grande”, constata o radiologista torácico Gustavo Meirelles, que é gestor médico de Inovação do Grupo Fleury. Atualmente, os médicos começam a pedir a tomografia para quem tem sintomas mais leves, sim. Por exemplo, para pessoas nos grupos de risco, as quais apresentam uma tendência maior de a história se complicar de uma hora para outra. Afinal, a imagem obtida pelo exame pode exibir características muito comuns nesse tipo de infecção e, digamos, colocar o gato em cima do telhado de vez. Encontrar todas as pistas do coronavírus na imagem dos pulmões não muda em nada a conduta, bom ir logo esclarecendo: “A pessoa continuará isolada em casa”, avisa o radiologista.
Só que, na certa, ela e a equipe médica ficarão ainda mais espertas sobre a possibilidade de progressão da doença sabendo que é um caso de covid-19. Ou, melhor dizendo, que tem tudo para ser mais um caso de covid-19. Eis a questão no centro de um novo debate: a tomografia computadorizada deve ser usada para diagnosticar a doença e não apenas para avaliar sua evolução?…